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3/27/2010

Em defesa dos pequenos detalhes

Bom, eu sempre gostei de vinhos. Mas um dia um jornalista-fotógrafo metido a enólogo cruzou o meu caminho e, além de me apaixonar perdidamente por ele, o meu interesse por vinhos aumentou, consideravelmente.

Fiquei muito mais seletiva com relação ao que bebia e, ao mesmo tempo, mais exigente. Passei a entender as informações que os rótulos traziam, a experimentar mais para beber melhor. E, principalmente, a compreender que não há muito truque para escolher uma garrafa boa: como a maioria das coisas na vida, com o vinho, a gente recebe pelo o que paga.

Hoje eu posso dizer que sou a versão enóloga de mim e, para alguns, isso é sinônimo de frescura. Mas preciso dizer, não se trata de frescura. É que, sendo aquele tipo de mulher que dá valor às preliminares, o passo-a-passo é fundamental. Como retirar a parte de cima da cápsula antes de tentar sacar a rolha, o que me parece tão óbvio quanto amarrar os cadarços dos sapatos...

A questão é que acho que o vinho merece um mínimo de consideração, por mais ridículo que isso soe para alguns. Levantar uma taça até os lábios, verter – adoro esse verbo – o líquido para dentro da boca, deixá-lo passear pela língua, sentir a textura, deixá-lo descer pela garganta... É quase um rito de amor, de prazeres, orgasmos e surpresas, boas ou ruins.

Por isso não se bebe vinho em qualquer taça, não se harmoniza vinho com qualquer comida, não se escolhe vinho pelo design da garrafa.

Se, ao se eleger um rótulo, se pensasse sobre o esforço para produzir o vinho, o preço pago pela garrafa seria mero detalhe. Se não fosse tão difícil extrair mais de cada taça desgustada, girar, cheirar, escolher a taça adequada e todas as demais parafernálias não seriam coisa de bitolado...

Por isso estou aqui defendendo publicamente os pequenos detalhes que, combinados fazem toda a diferença. Porque vinho bom não é só o conteúdo da garrafa, mas o resultado da experiência. Principalmente quando se leva em conta outros fatores, como COM QUEM se bebeu o vinho, Como e Onde.

3/06/2010

Para quem quer se soltar, invento o cais...

O primeiro post de 2010, depois de longos meses de silêncio, nasce de uma auto análise, nesta chuvosa e melancólica manhã de 06 de março. Estou aqui vendo um DVD da Elis, já antigo, e me paralisou uma das faixas, em que ela interpreta Cais, do Milton.

Poesia pura, melodia maravilhosa. Mas, também, o desabafo de alguém - não sei se homem ou mulher em quem Milton se inspirou -, que se parece muito comigo. Alguém corajoso, que cria, ou inventa, a medida da emoção necessária para que a vida tenha algum sentido. Que traz o sopro à vela que toca o barco adiante.

Mas, como alguém sabidamente já disse, se fosse fácil não seria tão difícil!

Não sei se quem me vê, quase sempre no comando das situações a que o dia-a-dia me obriga, imagina a luta que existe dentro de mim entre "quem eu verdadeiramente sou" e "quem pareço ser". Entre a minha porção pisciana (melancólica e sonhadora) e minha porção taurina (materialista, realista e pouca afeita a demonstrações de afeto), que se digladia e quer provar, uma para a outra, quem é que está no comando.

Essa luta é mais evidente em se tratando das minhas relações afetivas. Meu lado taurina nunca me deixa ser doce o suficiente com quem espera que eu seja; não deixa com que eu me submeta ao papel de sexo frágil e dê ao homem a segurança necessária para que ele queira se lançar.

Então o meu lado pisciano entra em ação, inventa em mim o sonhador. E o saveiro, sempre pronto para partir, nunca sai do cais.