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1/26/2009

Sobre mais um ano

Sair da frente da televisão, festejar, dançar, experimentar coisas novas ou abraçar um estranho. Não tenha medo de recomeçar. Esqueça as notícias requentadas, as dores do velho que agoniza à beira da morte. Os sonhos frustrados, as traições do passado. Afinal, águas passadas não movem moinho. Não se prenda a convenções ou a velhos catecismos inquisitórios. Você foi desafiado a viver. Então, pare de sobreviver.
Você tem a chance de fazer algo, de reinventar. Prefira ser uma metamorfose ambulante, a ter uma velha opinião formada sobre tudo. Quem se rotula, se limita.
Lembre-se, nada será realmente novo se se continua fazendo as mesmas bobagens de sempre. Ano novo deveria chamar-se oportunidade. Oportunidade de recomeçar, de perdoar e ser perdoado, de mudar, de mudar-se, fazer novos amigos, realizar um sonho, fazer uma loucura (sadia), uma viagem, uma maluquice. Algo inusitado, que vc não se esqueça para o resto de sua vida.
Arrisque-se. A vida só se dá para quem se deu.
Comece de novo, mesmo que você tenha errado com as pessoas que você ama. Mesmo que seus amigos tenham abandonado, que Deus não responda às suas orações. Que todos lhe digam que você está acabado, que é melhor desistir. Siga em frente, continue. Você tem um janeiro novinho, um ano zerinho para ser vivido.
Admita que você não tem o controle de tudo, nem todos, e algumas coisas estão além da sua compreensão. Que pessoas legais também morrem, e sapos não viram príncipes. Que fugir nem sempre é a melhor solução e nem tudo termina bem.
Que Roque Santeiro não era santo coisa nenhuma e felicidade é, na verdade, pequenos momentos que desejaríamos que durassem para sempre. Mas não dura. E dia feliz às vezes é muito raro.
Lembre-se, ninguém presta queixa por beijo roubado. E, se tem coisa mais gostosa que beijo na boca, Deus deve ter guardado lá pro céu. As sogras... bem, deixe isso para lá.
Aprenda, como escreveu Shakespeare, a “construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para planos e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”. Depois de um tempo você aprende que o sol queima, se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importa, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, se a ama.
Aprende que a confiança leva anos para ser construída, mas dois segundos para destruí-la, e você poderá fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto de sua vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E, o que importa, não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
Talvez você tenha filhos, talvez não. Talvez você faça aquela viagem, talvez não. Talvez voc~e encontre o grande amor da sua vida, talvez não. Talvez todos o chame de louco e, quem sabe, talvez não. O que importa mesmo é que você não desistiu, e tentou, insistiu e não teve medo de recomeçar. Como cochichou Drummond, “para sonhar um ano que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente. É dentro de você que o Ano-Novo cochila, desde sempre!

Gerson Borges