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3/31/2009

RONDÓ DE MULHER SÓ

Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.

Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.

O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.

Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.

A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.

É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Somos todas selvagens: são inúteis as fantasias que vestimos para o grande baile. Selvagem era a romana que ficava em casa e tecia; selvagens eram as mulheres do harém, as mais depravadas e as mais pudicas; selvagem, furiosamente selvagem, foi a mulher na sombra da Idade Média, na sua mordaça de castidade; mesmo as santas - e Santa Teresa de Ávila foi a mais feminina de todas - fizeram da pureza e do amor divino um ato de ferocidade, como a pantera que salta inocente sobre a gazela. E selvagem sou eu sob a aparência sadia do biquíni, olhando a mecânica erótica de olhos abertos, instruída e elucidada. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.

Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O resto em torno é incompreensível. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Até as prostitutas falham nos seus propósitos, incapazes de impedir que o comércio se deixe corromper pelo amor. Quantas mulheres traçaram seus esquemas com fria e bela isenção e acabaram penando de amor pelo velhote que esperavam depenar. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se é taça de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. Os vasos têm muitas formas e andam todos eles à procura de uma bebida lendária.

Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.

Para esse escritor, desde que existem homens no mundo, há inúmeras teorias masculinas sobre a mulher ideal. Certo. A matrona foi inventada de acordo com as idéias de propriedade dos romanos. Como a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita, muito docilmente a mulher de César passou a comportar-se acima de qualquer suspeita. Os Dantes queriam Beatrizes castas e intocáveis, e as Beatrizes castas e intocáveis surgiram em horda. A Renascença descobriu a mulher culta, e as renascentistas moderninhas meteram a cara nos irrespiráveis alfarrábios. O romancista do século passado inventou a mulherzinha infantil, e a mulherzinha infantil veio logo pipilando.

O tipos vão sendo criados indefinidamente. Médicos produzem enfermeiras eficientes e incisivas como instrumentos. Homens de negócios produzem secretárias capazes e discretas. As prostitutas correspondem ao padrão secreto de muitos homens. Assim somos. Indiquem-nos o modelo, que o seguiremos à risca. Querem uma esposa amantíssima - seremos a esposa amantíssima. Se a moda é mulher sexy, por que não serei a mulher sexy? Cada uma de nós pode satisfazer qualquer especificação do mercado masculino.

Seremos umas bobocas? Não. Os homens são uns bobocas. O homem é que insiste em ver em cada uma de nós - não a mulher, a mulher em estado puro ou selvagem, um ser humano do sexo feminino - o diabo, a vagabunda, a lasciva, o anjo, a companheira, a simpática, a inteligente, o busto, o sexo, a perna, a esportista... Por que exige de nós todos os papéis, menos o papel de mulher? Por que não descobre, depois de tanto tempo, que somos simplesmente seres humanos carregados de eletricidade feminina?

(O amor acaba: crônicas líricas e existenciais - Paulo Mendes Campos)

3/29/2009

É preciso dizer que te amo

Chega dessa pasmaceira, dessa covardia amorosa. Se vocês soubessem o que elas andam falando por aí... Horrores a vosso respeito. O pior é que elas estão cobertas de razão. Vocês estão sendo tachados de frouxos, rascunhos de homens. Prestem atenção, amigos, faz sentido o que elas dizem. A maioria de vocês corre delas ao menor sinal de vínculo, logo após a primeira manhã de sexo.

O que é isso, companheiros? Fugir à melhor das lutas? Nem vou falar na falta de educação do dia seguinte. Ora, mandem nem que seja uma mensagem, seus preguiçosos, ordinários. O que custa um telefonema? Afinal, vocês querem ou não dar seqüência à história? Ora, depois daquela intimidade toda! Um mimo em palavra: "Foi ótimo, noite linda!".

Amigos, vocês estão errando ao pensar que elas querem urgentemente levar vocês ao altar. Bom, algumas sim, mas vocês não podem generalizar. Muitas vezes, elas só querem uma noitada boa! Por será que vocês só exigem segunda chance quando brocham? Ah, eis o ego do macho ferido.

Sim, muitas querem uma história com firmes laços afetivos. Primeiro que esse desejo é legítimo, lindo, está longe de ser crime, e pode ser ótimo para vocês. Enquanto vocês ficarem com esse medinho, nesse eterno "estou confuso", estão perdendo a chances de viver, no mínimo, bons momentos de felicidade. Afinal, para que estamos nós sobre a terra? Só para morrer de trabalhar e enfartar com a final do campeonato?
Ah, caros amigos, nem só de pão vive o homem!

Mulher não é para ser temida, é para dar o melhor da existência, para completar. Nada melhor do que a lição franciscana do "é dando que se recebe". E até sexo pra valer, aquele de arrepiar, só vem com a intimidade, os segredos da alcova, o desejo forte que impede até o ato que vocês mais odeiam, a velha brochada da qual já falei.

Não há decepção maior no mundo do que a covardia em fugir do que poderia ser os bons momentos da felicidade possível, repito, não a felicidade utópica, mas a felicidade que escapa covardemente entre os vossos dedos a toda hora.

O amor acaba, em qualquer esquina ou estação, depois do teatro, a qualquer momento, como dizia Paulo Mendes Campos, mas ter medo de enfrentá-lo é ir desta para outra mascando o jiló do desprazer e da falta de apetite na vida. Falta de vergonha na cara e de se permitir ser chamado de homem para valer e de verdade.

Acordem, acordem! Usem a inteligência uma vez só, quantos idiotas vivem só!

3/27/2009

Triste é viver na solidão...



3/08/2009

Satisfação

A melhor coisa, após um fim de semana divertido e ensolarado no Rio de Janeiro, é chegar em casa, olhar as minhas coisas e constatar que a vida está exatamente como deveria ser.E eu tô feliz para caramba.