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2/14/2014

Voltando às postagens

Oi, gente! Quase um ano depois de tê-los abandonado, eu volto aos posts do blog, agora com um propósito: quero dedicar o espaço às minhas incursões pela cozinha, testando receitas #veganas, #vegetarianas, sem #lactose e sem #gluten. Para isso, criei o "Meu Bistrô Vegano" (http://meubistrovegano.blogspot.com), onde posto fotos, e agora as receitas, das coisas que experimento.
Espero que as minhas receitas os inspirem a ir pra cozinha também. Um abraço! :-)

3/21/2013

Ele não quer namorar?


O jornalista Mario Welber publicou texto no Facebook sobre o “jeitinho estranho” de alguns homens modernos avaliarem relacionamentos e obteve algumas dezenas de compartilhamentos… Por isso, em razão da surpreendente identificação de inúmeras mulheres com a opinião do amigo, trouxe o artigo para o blog!


Os homens e suas falsas convicções de felicidade…


Dias desses, na fila do banco, uma moça de aparentemente 20 anos, consternada pelo fim do namoro, reafirmava com convicção a uma amiga que “o cara da música só existe num lugar pra onde a canção foi feita: a novela”. Dentro dessa revolta cada vez mais comum da mulherada, que já começa, entre outras, a se preocupar com a raridade de ver homens que simplesmente sintam atração por mulher, eu pergunto: Será mesmo que a sociedade se pintou tão acinzentada que as melhores coisas da vida – justamente as mais simples – perderam seus matizes e sabores? Passear de mãos dadas, ir ao cinema, rir e brigar de vez em quando, sentir um ciuminho e mandar torpedos inesperados (para a mesma pessoa) se tornou algo tão ultrapassado assim?

Primeiro, não existe “solteiro convicto”. Se há solteirice existem também tédios e inquietações, além é claro, da expectativa quase irreal de encontrar o amor da vida sempre na próxima esquina. O cara pode até estar, mas jamais será um solteiro convicto. Pelo simples fato de ser humano, sentir a carência e a idade baterem às portas ele se tornara um dia, forçosa e inesperadamente, um solteiro “não tão convicto assim”.
Em 2013 completarei 30 anos de idade. Não só, portanto, minha idade amadureceu. Junto com ela também minha maneira de ver o mundo e observar o que nele há de mais interessante: as pessoas. Dizem que somos várias pessoas em uma. Aos 15 anos pensamos de um jeito, aos 20 de outro, aos 30 de outro e por aí vai. Apesar dos valores vitalícios, crenças enraizadas e princípios inegociáveis que há em nós, somos realmente uma parcela de pessoa a cada época da vida. Vou, no entanto, nas palavras e com a ajuda do jornalista Ivan Martins, refletir sobre “o que realmente importa” em épocas de prioridades desencontradas, sonhos truncados e expectativas frustradas.

O mundo parece estar cheio de homens que não querem namorar. Eles me contam isso, as mulheres que saem com eles dizem isso. Que o sujeito hesite em casar, ter filhos, financiar apartamento pela CDHU – tudo isso me parece compreensível. Esses são grandes passos e nem todos estão prontos para o compromisso. Mas namorar, tanto quanto eu sei, não dói. Andar de mãos dadas, viajar no feriado, ir ao cinema no sábado à tarde são atos no campo do prazer, não do dever. Não deveriam constituir um problema.

No entanto… Pergunte às mulheres e ouça o que elas têm a dizer sobre o assunto. Essencialmente, vão contar que os caras só querem o bilhete de ida. Estão a fim de uma viagem única. Se gostar do sexo, do agarro, do beijo, o sujeito volta; ou não. Tudo é negociado um dia de cada vez.

Não há laços, nem fins de semana assegurados, muito menos exclusividade. Esta situação, que antes seria considerada transitória, agora pode durar indefinidamente. Do ponto de vista de algumas mulheres com quem eu tenho conversado, os relacionamentos ficaram parecidos com empregos precários: não há contrato, não há garantias e aviso prévio não existe. Pode acabar a qualquer instante, já que oficialmente nunca começou.

É o amor terceirizado.

Da parte dos caras, a queixa é outra. “Eu não me envolvo”, eles reclamam. Sai moça, entra moça, e fica o mesmo vazio. A mulher que parecia espetacular perde o brilho em poucos dias. A empolgação inicial não se sustenta. Tudo se resume a um desejo passageiro, que pula de uma dona para outra. Como nada ganha relevo, tudo é igual a tudo. Então se trata, simplesmente, de administrar uma agenda com vários nomes. Isso inclui Facebook, celular e muitas horas vazias e solidão. Um dia a Fulana, outro dia a Sicrana, amanhã, quem sabe, alguém capaz de fazer diferença. Em cada uma delas, novidade e prazer. Nos intervalos entre elas, ansiedade e tédio. Entre uma e outra, angústia.

Como eu já disse, não entendo muito bem essa dificuldade. Acho bom demais namorar. Melhor coisa do mundo, na verdade. Os primeiros meses de namoro são melhores que banho de cachoeira, melhor que pegar jacaré no fim de uma tarde de verão, melhor que ficar bebum em companhia de amigos queridos. No namoro a gente descobre (ou redescobre) que pode ser feliz, que o nosso romantismo não morreu, que existe dentro de nós um sujeito capaz de gestos arrebatados e pensamentos delicados, um cara que se lembra de comprar um presente inesperado e de mandar um poema no meio da tarde, pelo celular. Quem não gosta de sentir-se assim levanta a mão – e corre assim mesmo, de mão erguida, para o analista mais próximo!

Então, não acho que os homens tenham problemas com isso. Seria desumano. Minha impressão é que há dois tipos de situações, a simples e a complexa. A simples é realmente simples: ele não quer namorar você, mas não significa que não queira namorar em geral. As mulheres às vezes confundem. Criam fantasias sobre as dificuldades afetivas de um cara que apenas não está a fim delas, mas cai de quatro dias depois pela próxima mulher que entra na vida dele. Isso acontece o tempo todo. É do jogo.

Levanta e vai à luta, menina.

Mas há outro tipo homem para quem namorar é realmente um problema. Entre ele e o oásis de ternura e erotismo chamado namoro caminha a besta vigilante da ansiedade. A fera peluda de olhos flamejantes impede o sujeito de se concentrar. Faz com que ele se disperse numa multidão de desejos conflitantes. Diante de tantas garotas, diante de tamanha possibilidade de prazer, o cara não consegue fixar sua atenção em ninguém. Quer tudo, deseja todas, e, por mais que obtenha, continua insatisfeito – porque há sempre mais ao redor. Sempre existe uma mulher mais bonita, mais sexy, mais interessante na próxima esquina. Se a bússola do coração está quebrada, seu dono nunca vai achar o Norte. É uma corrida sem linha de chegada. Mesmo sozinho e miserável, o sujeito seguirá esperando a resposta definitiva do universo às suas inatingíveis aspirações. Pode chamarisso de burrice, mas eu acho que é mesmo ansiedade e desassossego. Uma forma destrutiva de romantismo.

As mulheres se julgam as criaturas mais românticas do planeta, mas talvez não sejam. Olhe em volta: diante de um cara apaixonado, bacana, determinado a ficar com elas, boa parte das mulheres sossega. O cara pode não ser perfeito, mas se torna “o cara”. Há nisso um pragmatismo que muitos homens perderam. Enquanto as mulheres escolhem de maneira apaixonada, mas com os pés no chão, eles parecem viver nas nuvens, sonhando com a mulher perfeita. Como ela não aparece, o cara vai testando uma atrás da outra, como se levasse um sapatinho de cristal no bolso. O padrão de exigência é elevado, opressivo talvez. Muitas vezes baseado apenas em aparência. Tem homem adulto se apaixonando pela mulher da capa de revista, por atriz de filme pornô, por modelo americana. Homens de 30 anos, eu digo. Homens de 40. Não há limite de idade para o desvario.

Uma legião de barbados de todas as classes e graus de instrução vive à mercê de fantasias que bloqueiam as construções afetivas verdadeira. Como o sujeito vai namorar se a mulher da vida dele pode aparecer do nada na semana que vem? Se você está apaixonada por um cara assim, talvez seja melhor dar um tempo e esperar ele pousar na Terra. Pode demorar uns aninhos.

O Alain de Botton, que virou meu guru nesses assuntos, lembra que ali pelos 40 anos o sujeito já começa a perceber que vai morrer, e isso acrescenta a tudo que ele faz uma tinta de urgência. Sobretudo no sexo. Antes de empacotar, antes de ficar broxa e caído, é preciso aproveitar a juventude – dos outros. Esse sentimento é forte. Se o jovem quer todas as mulheres do mundo porque está nadando em desejo e inexperiência, o mais velho sente o mesmo porque acha que está saindo de cena e tem fome de vida.O período de maturidade masculino, essa quimera científica, fica cada vez mais curto, espremido entre duas áreas de insensatez em expansão.

Claro, não há dois homens iguais. O roteiro que eu descrevo não vale para todos. Talvez valha só para uma minoria ruidosa. A maioria – quem tem essa estatística? – deve estar feliz agora mesmo, encomendando na internet um presente para a namorada. Ou planejando uma viagem romântica de Ano Novo com ela. Não sei. Olho pro mar e vejo apenas quem está se afogando – e são muitos. Se eu pudesse dizer alguma coisa para eles, diria “pare, respire, comece alguma coisa”. Escolha alguém que toque os seus sentimentos e se deixe ficar ao lado dela. As mulheres, quando querem, quando nós deixamos, têm um jeito gostoso de nos fazer felizes. Pode não ser para sempre, mas quem se importa? A vida é um dia de cada vez – e eles são melhores quando a gente está namorando.”


Não que precisemos, necessariamente, de alguém para sermos felizes; mas pelo simples fato de que só se é feliz quando dividimos o nosso melhor com alguém.

2/06/2012

Que Deus nos proteja do amor

Revirando o acervo de textos de Luiz Pondé para a Folha, encontrei esta pérola. Que Deus nos livre!

Seguindo o rastro da filosofia escandinava da angústia, deixando a Dinamarca e indo em direção à Suécia, encontro a atmosfera do grande cineasta Ingmar Bergman (1918-2007) em sua ilha de Faro.

Paisagem desolada e fria, cenário de alguns dos seus grandes filmes, Faro é o mundo ideal para a geografia bergmaniana da alma, geografia esta que fala das experiências do abandono, do amor traído, da tortura causada por um Deus silencioso, e do pavor do nada que nos habita dissolvendo nossas esperanças.

Entre os seus filmes rodados em Faro, um -para o qual ele "apenas" fez o roteiro e Liv Ullmann, uma de suas esposas e maiores atrizes, dirigiu- é excepcionalmente contundente. "Infiel", feito em 2000, é uma pérola da tradição dos filmes sobre o amor que devasta a vida com a força de uma tempestade vulcânica.

A estética bergmaniana da devastação da alma pelo afeto se realiza no filme não só pela presença de sua repetida insistência em expor nossos maiores demônios mas também pela delicadeza no tratamento de um desses demônios, a paixão imprevista, que assola nossa vida e a destrói, esmagando-a sob o peso da irresistível beleza do amor romântico.

Marianne é uma bela atriz, casada com o bem-sucedido maestro Markus. O casamento deles é muito feliz, com amor, uma filha linda e doce, e sexo em abundância, dados importantes para excluirmos o senso comum que crê que a infidelidade por paixão só assola casamentos já arruinados.

Se assim fosse, casais que se amam estariam a salvo, e a infidelidade por paixão romântica não seria uma tragédia, mas sim uma ciência matemática e, portanto, previsível.

O terceiro elemento é David (o amante), diretor de teatro, amigo íntimo do casal, que carrega elementos autobiográficos do próprio Bergman (sua crueldade com as mulheres, seu caráter furioso, sua insegurança afetiva, sua tendência autodestrutiva).

O triângulo repete a "receita" medieval clássica de destruição da vida pela paixão amorosa: a mulher que se apaixona perdidamente pelo melhor amigo do marido.

Tudo começa por acaso. Marianne e David se viam como irmãos. Uma noite, dormindo na mesma cama, já que se viam como irmãos (não vou entrar em detalhes de por que dormem nessa ocasião na mesma cama), Marianne desperta no meio da noite e "o vê pela primeira vez", enquanto ele dorme.

Na sequência, eles se encontram numa galeria de arte, e num beijo impulsivo, a vida deles, do amigo e marido dela, Markus, e da pequena filha, Isabella, mergulha no abismo. A cegueira é de fato a melhor metáfora sensorial para o amor que os enlaçará num destino impiedoso, mas belo.

Como diz o maravilhoso escritor francês Bernanos, "o acaso é feito à nossa semelhança". O sentido dado pelos medievais à paixão romântica é exatamente este: uma doença que nos acomete ao acaso e nos deixa obcecado pela beleza do ser amado, levando-nos à destruição.

A paixão se impõe por sua própria natureza deliciosa e por isso mesmo impiedosa, e não porque ela signifique algo além de si mesma. Quem busca na doença do amor algo além dele mesmo vaga por uma casa vazia. O roteiro de Bergman e a direção de Liv Ullmann capturam exatamente essa falta de sentido da paixão romântica, a não ser a própria escravidão maravilhosa a ela.

Marianne, contra si mesma, perde o controle da própria vida e arrasta consigo "um mundo inteiro".

Sua vida, antes bela e bem disposta entre os elementos que ordenam o cotidiano (amor, sexo, trabalho feliz e bem-sucedido, bens materiais abundantes, mas não excessivos, desenhando o equilíbrio entre desejos e necessidades visíveis), é destroçada contra sua crescente dependência da presença física de David em seu cotidiano, dissolvendo a ordem bela que dispunha sua vida para a felicidade e harmonia entre seus desejos e necessidades invisíveis.

Quanto maior o amor, maior a indiferença para com suas vítimas. Num momento de grande agonia, descrevendo o que sente, Marianne diz que "David cresce dentro dela e de sua vida como um tumor que tudo invade".

Que Deus nos proteja do amor.

7/14/2011

Caipirinhas


DSC02679, upload feito originalmente por aianafreitas.

6/27/2011

Amor acaba antes da 'crise dos sete anos', dizem estudos

GUILHERME GENESTRETI - DE SÃO PAULO

Quanto tempo passa entre a troca encantada de olhares e o momento que você repara nos defeitos do seu amor? Para o senso comum, a prova de fogo vem na "crise dos sete anos". Uma expressão popular nos Estados Unidos diz que após esse tempo, a coceirinha, a "seven year itch", começa a incomodar o casal.

Já um psicólogo evolucionista chutaria que o prazo de validade do amor gira em torno de quatro anos -o suficiente para que o homem ajude a mulher a cuidar da criança, até que essa esteja apta a seguir por conta própria na tribo nômade.

Mas um levantamento feito em cerca de 10 mil residências nos EUA pela Universidade de Wisconsin encontrou um tempo de duração ainda menor do amor: três anos.

É o mesmo tempo apontado em estudo patrocinado pelo estúdio Warner Brothers, feito com 2.000 adultos no Reino Unido. Foram comparados casais em relações curtas (menos de três anos) e longas (mais de três). No primeiro grupo, 52% afirmaram gostar das relações sexuais. No segundo, apenas 16%.

É claro que, nesses estudos, amor e paixão foram considerados sinônimos.

"Paixão eterna só existe na ficção", afirma o psicólogo Bernardo Jablonksi, autor de "Até Que a Vida Nos Separe: A Crise do Casamento Contemporâneo" (Ed. Agir).

"Na paixão você sofre, para de comer, não dorme. Não tem como durar muito", afirma o autor, que já passou por diversas separações.

O psiquiatra Luiz Cuschnir, do Instituto de Psiquiatria de São Paulo, acha que as pessoas deveriam dizer "eu te amo agora", porque dizer "eu te amo muito" dá a ideia de que o compromisso não vai acabar.

O psicólogo Aílton Amélio concorda. "Amor pode terminar em um dia, porque ele depende dos fatos para ser nutrido. É como andar de motocicleta: se parar, cai", compara o psicólogo.

Há quatro anos, a carioca Beatriz Piffer, 27, namorava, mas conheceu um rapaz numa festa. Passaram a noite conversando, ele contou que era cineasta, ela disse que cursava filosofia.

Apesar da atração mútua, não trocaram telefones. E também não perguntaram o sobrenome um do outro.

"Fui para casa triste, pensando que nunca mais ia vê-lo. Passei os oito meses seguintes à procura dele".

Viveu dias de detetive amadora: rememorou os detalhes da conversa, montou pastas no computador para juntar pistas até descobrir o e-mail dele. Aí forjou um encontro casual. Deu certo: começaram a namorar já no dia do reencontro.

"Eu tinha a certeza de que tinha encontrado o homem da minha vida. Ele achou que era coisa do destino".

O namoro terminou quatro anos depois. "Ele viajava muito", diz Beatriz.

Hoje eles ainda saem, mas para tomar café juntos.

"O amor não acabou, só a relação é que mudou. O modelo que todo mundo espera não existe."


OUTRA COISA

A atuária Luiza Ferreira, 28, de Brasília, trabalha com números, mas não sabe quantificar quanto dura o amor. Só sabe que o sentimento é passageiro. "Meus pais se separaram quando eu era pequena", explica.

Seu namoro mais curto, lembra, durou um ano, e o mais longo, cinco.

"Tem muito casal que vive junto, mas sem amor, só pelo carinho. Com o tempo, amor vira outra coisa."

O supervisor mecânico Fernando Vicente, 50, e a professora Sílvia, 45, estão casados há 26 anos. Dizem nunca ter passado por uma crise.

"Se ela não é minha alma gêmea, é a mais próxima disso", diz Vicente. Mais da metade dos amigos deles já se separaram, acrescenta.

MONOGAMIA SERIADA

O cineasta Roberto Moreira, 50, diz que o amor pode ser eterno, "mas a probabilidade é pequena."

Para ele, relacionamento que dure mais de dez anos é um "sucesso".

Moreira lançou em 2009 o filme "Quanto Dura o Amor?", que narra a busca melancólica de uma atriz, uma advogada e um escritor por um amor que dure.

"Talvez o melhor título fosse 'Quanto Dura a Paixão?', porque o amor só vem quando o outro deixa de ser uma projeção sua", afirma.

No filme, os amores são tão efêmeros quanto as relações na cidade. "O final é pessimista, mas mostra que muitas pessoas podem crescer com o amor", diz Moreira.

Professora de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais e autora de "Reinvenções do Vínculo Amoroso" (Ed. UFMG), Marlise Matos não despreza a dimensão biológica --e mais efêmera-- do amor. Mas se concentra na dimensão que é pura construção social. "O amor pós-moderno é a possibilidade de dissolução."

O psicanalista Francisco Daudt, colunista da Folha, diz que vivemos um tempo de "monogamia seriada".

"É poligamia disfarçada. Cumprimos o papel de polígamos, mas com uma pessoa de cada vez."

Ele tem perguntado a seus pacientes se se imaginam casados com a mesma pessoa daqui a 20 anos.

"A negativa é frequente. Estamos menos hipócritas."

6/22/2011

Verbum Testimonii: TRISTEZA

Verbum Testimonii: TRISTEZA: "“Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”. (Eclesiastes 7:3) Sempre quis entender melhor es..."

6/16/2011

Por que acaba um casal? - CONTARDO CALLIGARIS

Nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como se fosse uma "tumba do amor"
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NO DOMINGO passado, Dia dos Namorados, um amigo mandou flores para sua mulher com este bilhete: "Posso ser seu namorado ou continuo sendo apenas seu marido?".
A frase foi bem recebida. É que, para nós, "namorado e namorada" pode ser muito mais do que "marido e mulher". Em regra, nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como uma tragicômica "tumba do amor".

Na última sexta, na Academia de Ideias de Belo Horizonte, durante um bate-papo com João Gabriel de Lima sobre meu último livro, ao falar de amor e casais, eu propus o seguinte: 1) todos tendemos a amarelar diante de nosso próprio desejo; 2) o casamento nos permite acusar alguém de nossa própria covardia -assim: eu quero fazer isso ou aquilo, mas tenho preguiça e medo; por sorte, agora que me casei, posso dizer que desisto porque assim quer minha parceira; 3) um casal, para valer a pena, não deveria servir para justificar as desistências de nenhum de seus membros; ao contrário, ele deveria potencializar os sonhos e os desejos de cada um dos dois.
Uma mulher me lembrou, com razão, que até esse tal casal que vale a pena pode acabar. E perguntou: por quê?

Existe uma sabedoria popular resignada sobre a duração de um casal. Os sentimentos do namoro viveriam, no casamento, uma decadência progressiva inelutável. E os casais continuariam unidos mais por inércia do que por gosto.

Alguns dizem que a rotina e a proximidade desgastam os sentimentos. Ou seja, o apaixonamento sempre é fruto de alguma idealização, e de perto ninguém parece ideal por muito tempo. Será que o remédio seria manter a distância para não enxergar as falhas do outro?

Respondo: amar não significa não enxergar os defeitos do outro, mas achar graça neles. Uma amiga perde um celular por semana; ela sabe que uma relação amorosa está acabando no dia em que seu homem, em vez de achar graça na sua desatenção, irrita-se com seu descuido.

Outros acusam o tédio. A novidade (valor mor da modernidade industrial) seria o ingrediente essencial (e, por definição, efêmero) do casal feliz. Ou seja, felizes são só os recém-casados.

Respondo: todos nós, neuróticos, amamos a repetição e a praticamos com afinco. A rotina, portanto, não deveria nos afastar do amor.

Volto, portanto, à pergunta: por que um casal acaba? Levantei a questão no Twitter, e @M_Angela_ Jesus me escreveu que, segundo Anaïs Nin, os casais não morrem nunca de morte natural, mas por falta de cuidados, de atenções e de esforços.

A citação me levou a pensar nos meus próprios casamentos fracassados; não cheguei a resultado algum, salvo o fato de que não deveríamos chamar necessariamente de fracasso um amor que acaba; erigir a duração em valor é uma ideia perigosa, que pode transformar separações bem-vindas e necessárias em processos laboriosos e infinitos.
No meio dessas reflexões, no domingo, fui assistir a "Namorados para Sempre", de Derek Cianfrance, que me tocou fundo, por ser justamente a história de um amor que não é mais possível. Isso, sem que os protagonistas consigam saber por que "não dá mais": nenhum deles é o vilão da crise, e nenhum deles é capaz de dizer o que está errado e deveria mudar para que o casal tivesse uma chance.

A julgar pela idade aparente da filha, o casal do filme dura há mais ou menos cinco anos. Em cinco anos, os namorados que, no primeiro encontro, haviam dançado e cantado na rua, cheios de alegria e de encantamento, transformaram-se num casal de estranhos que se encaram antes de se enxergar.

O que aconteceu? Não há resposta. Essa é a força do filme, que acua cada espectador a se perguntar o que foi que aconteceu a cada vez que ele ou ela amou, e o amor se perdeu.

Não é preciso que haja discordância brutal, traição ou desamor para que um casal se perca. Claro, é sempre possível racionalizar e apontar causas: no caso do filme, ao longo dos cinco anos, talvez ela tenha "crescido" profissionalmente (como se diz) e alimente agora ambições que ele não pode compartilhar porque, para ele, o casamento e a filha continuam sendo as únicas coisas que importam. Pode ser.

Mas talvez o fim de um amor seja um fenômeno tão misterioso quanto o apaixonamento. Talvez existam duas mágicas opostas, igualmente incontroláveis, uma que faz e outra que desfaz.