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6/08/2009

Pintou o amor



Ela está por toda a cidade. Da avenida Angélica à Faria Lima, passando pela Vila Madalena, pela zona norte e pela região do Baixo Augusta. Até mesmo entre os mais distraídos, é difícil encontrar quem ainda não se deparou com a frase: "O amor é importante, porra!", pichada nos muros e estampada em cartazes.

A cada dia, ela ganha mais admiradores. "Acho inspirador, em uma cidade como São Paulo, onde as pessoas só se preocupam em trabalhar ou encher a cara, saber que há quem se lembre do amor", desabafa a escritora Clarah Averbuck, 29, autora, entre outros, de "Máquina de Pinball" (ed. Conrad, 80 págs., R$ 22).

Na internet, blogs, fotologs e flickrs comentam a proliferação da declaração anônima pela cidade e trocam pistas a respeito da identidade do pichador. "É uma lenda urbana. Ninguém conhece", garante a blogueira e fotógrafa Adelaide Ivánova, 26, que fez uma campanha na web para identificar o responsável. Sem sucesso.

Na impossibilidade de solucionar o mistério, ela coleciona e publica em seu blog www.vodcabarata.com.br) fotos da declaração em diferentes pontos da cidade. Para isso, conta com a ajuda de amigos. Já reuniu ao menos 12 registros.

A personal stylist Fernanda Resende, 30, é uma das colaboradoras. No último fim de semana, parou o carro na contramão, na rua Tutóia (Paraíso), só para tirar uma foto, com a turma de amigos, em frente à pichação. "Acho que é alguém muito desesperado para disseminar o amor."

O escritor e jornalista Xico Sá, 46, colunista da Folha, arrisca um palpite: "Deve ser alguém que levou um pé na bunda gigante. Só o pé na bunda desperta tanta emoção", brinca.

Espécie de "muso inspirador" - por conta do emblemático "te amo, porra", imortalizado pelo filme "Eu Te Amo" (Arnaldo Jabor, 1981)-, o ator Paulo César Peréio, 68, sente-se homenageado com a multiplicação de recados românticos pela cidade. "Sou da contracultura, adoro as pichações. Tomara que elas continuem nas ruas."

Apesar do sucesso, o enigmático autor das frases não quer ser identificado. A Revista consultou grafiteiros, pichadores, artistas e integrantes de coletivos de intervenção urbana na tentativa de descobrir a sua identidade. Gente de seu convívio localizada pela reportagem tratou o assunto como um grande segredo.

Para o artista plástico Alexandre Órion, 30, que realiza intervenções urbanas, o autor não é pichador. "Eles sempre assinam. Também não deve ser um artista gráfico, que teria uma preocupação estética maior. Mas é uma das melhores intervenções que vi nos últimos tempos", diz.

Segundo o artista plástico e grafiteiro Chivitz, 32, que integra o coletivo Neurose Urbana Crew, pichação geralmente não tem uma mensagem. "E esse cara insiste sempre na mesma ideia."

por Leticia de Castro