Milágrimas

Quando se fala em cultura brasileira, logo vêm à cabeça o nosso folcore e as tradicionais batucadas e ritmos africanos originários do candomblé. Mas sábado, ao assistir ao espetáculo Milágrimas, fiquei surpresa com a criatividade de Ivaldo Bertazzo, que reuniu músicas de Dorival Caymmi, Ivone Lara e Itamar Assunção para repensar o nosso cotidiano.

São 42 bailarinos (negros) no palco, de uma comunidade carente de São Paulo. Mas de pobre o espetáculo não tem nada: figurino e coreografia são de uma riqueza impressionante. Ritmo e dança impecáveis.

Quem for ao espetáculo deve ir preparado para uma apresentação fora dos padrões, que junta cidade e tribos para repensar a loucura do dia-a-dia.

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E quem não conhece a música que dá origem ao tema da apresentação, posto aqui, porque tem muita poesia, muitasverdade e um grande conselho para que a vida fuja da monotonia. O lema é mudar sempre. Porque a vida está sempre se transformando. Todos os dias. Como um MILAGRE.

"Em caso de dor ponha gelo, mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido, troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido, saia do sério
Deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Em caso de tristeza vire a mesa, coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas, viva apenas
Sendo só fissura ou loucura, quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto
Invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal, do sal, do sal
Sinta o gosto do sal, gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas
Sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre"